A oferta de caminhões para locação dobrou de tamanho neste ano, acompanhando o aumento da demanda, e chamou a atenção das fabricantes. Uma após a outra, elas estão criando empresa própria para disputar esse filão.
Nos últimos três meses, três montadoras – Volkswagen, Volvo e Scania – anunciaram divisões para atuar no aluguel de pesados. A Randon e a Gerdau fizeram uma joint-venture com a mesma finalidade. Mercedes-Benz e Iveco também avaliam oferecer veículos nessa modalidade.
Até pouco tempo atrás disponível apenas nas locadoras, a frota de caminhões para locação subiu de 15,8 mil unidades em 2021 para 34,1 mil neste ano (até setembro), segundo dados da Associação Brasileira das Locadoras (Abla).
As montadoras não divulgaram ainda quantos veículos serão ofertados para locação e nenhuma quis fazer uma simulação de comparativo de preços alegando que há muitas variáveis a serem levadas em consideração no cálculo. Elas vão disputar mercado com empresas especializadas como Vamos, Localiza e Ouro Verde.
A entrada das montadoras no negócio repete movimento ocorrido a partir de 2018 com automóveis, quando passaram a oferecer “carros por assinatura”.
Seguindo a mesma tendência dos automóveis, em que consumidores veem vantagens em alugar um automóvel em vez de ter sua posse, grandes frotistas começam a entender que é melhor focar no negócio da distribuição de produtos e deixar a administração da frota de veículos para terceiros.
A locação de caminhões já é um grande negócio em países da Europa “e deve crescer muito no Brasil nos próximos anos”, avalia Paulo Miguel Junior, conselheiro gestor da Abla.
Serviços incluídos
De acordo com o presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), Roberto Cortes, com a pandemia, muitas empresas encontraram dificuldades em obter crédito para a compra de caminhões e estão optando pelo aluguel.
Em agosto, o grupo lançou VW Truck Rental, serviço em parceria com o banco da marca, o Volkswagen Financial Services, tornando-se a primeira montadora a entrar nesse negócio no País. A locação será feita por intermédio das suas concessionárias.
A VWCO oferece contratos de 30 a 60 meses que incluem, entre outros itens, serviços de gestão de manutenções preventivas ou corretivas feita pelas revendas da marca, seguro, sistema de telemetria, gestão de multas, documentação, pagamento de IPVA e carroceria.Venda de peças remanufaturadas já é negócio bilionário para o setor de caminhões e ônibus
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“Observamos uma tendência de locação de bens no transporte de cargas e logística em setores da indústria, agronegócio, mineração, construção e florestal”, diz Francisco. Segundo ele, dados do Renavam mostram que, em 2018, os emplacamentos de caminhões para locadoras representavam menos de 3% do total de veículos entregues. Já este ano, o volume acumulado até agosto chega a 11%.
Em mercados mais maduros, como os EUA e a Europa, a participação pode variar de 15% a 25% do total de caminhões que entram em circulação.
Segundo ele, uma das vantagens é fazer a locação por conta de acordo com a sazonalidade das operações das empresas ou para atender projetos específicos, utilizando veículos novos que serão devolvidos ao final do contrato.
Outro benefício, na visão da Volvo, é a não necessidade de investimento em ativos. O locatário assume as parcelas mensais, e pode alocar os pagamentos como despesa em seu balanço.
Caminhões mais caros
O movimento ocorre também num momento em que há uma mudança nas regras de emissões e consumo nos veículos pesados, lembra Flávia Spadafora, responsável pela área automotiva da consultoria KPMG. A partir de janeiro, os novos veículos terão de cumprir metas mais rígidas, o que exigiu novas tecnologias que vão encarecer os preços entre 15% e 20%.
Recente pesquisa divulgada pela KPMG, SAE Brasil, que reúne engenheiros automotivos e pela editora Autodata, mostra que 45% de potenciais compradores de caminhões afirmam ver a locação como alternativa. “É uma forma de a transportadora melhorar sua equação financeira e se desapegar de questões como manutenção, depreciação do veículo e valo residual”, afirma Flávia.
Entre as vantagens consideradas mais importantes pelos que responderam a pesquisa, 33% citaram o maior fluxo de caixa e capital disponível para outros investimentos, 23,1% a gestão de manutenção, documentação e multas, 19,8% não ter preocupação com desmobilização e venda de ativos, 15,7% benefícios fiscais e tributários e 7,4% outros fatores.
Na semana passada foi a vez de a Scania anunciar a criação da Scania Locação, que iniciará operações em janeiro e será administrada pela própria fabricante. Além dos caminhões Euro 6, a frota para aluguel terá veículos movidos a gás natural e/ou biometano.
Silvio Munhoz, diretor-geral das Operações Comerciais da Scania, afirma que a locação não vai substituir as vendas dos novos, mas expandir o perfil de operação da marca.
“Começamos a perceber uma tendência de aceitação pelo aluguel de caminhões, mudando um pouco o perfil conservador do transporte brasileiro”, afirma Munhoz. Também com contratos de 24 a 60 meses, a locação incluirá pacote de serviços de conectividade e monitoramento, programas de manutenção e assistência técnica 24 horas.
A Randon, fabricante de carretas, freios e suspensões e a Gerdau criaram no mês passado uma joint venture para entrar no segmento de locação de caminhões e equipamentos. A nova empresa, ainda sem nome, receberá investimentos de R$ 250 milhões a serem aplicados até 2024.
O vice-presidente de vendas e marketing da Mercedes-Benz, Roberto Leoncini, afirma estar discutindo com a rede de lojistas e com o banco da marca quando e como o grupo poderá entrará na locação.
Em sua opinião, os modelos que estão sendo lançados “são pouco atrativos”. A Iveco é outra fabricante que vai oferecer serviço de aluguel, mas ainda não definiu a data.
FONTE: TERRA