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Opinião: locadoras não tinham onde colocar veículos parados, mas devem lucrar ainda mais no futuro

No começo do isolamento social faltou pátio para pôr tantos carros devolvidos, mas a pandemia deve aumentar o potencial de crescimento desse setor

por Michelle Ferreira

O setor de locação de carros crescia a todo vapor antes da pandemia. Sem dúvida, estava impulsionado pelo boom de motoristas de aplicativos. As locadoras lucram com os aluguéis (pagos semanalmente) e depois embolsam outra fatia generosa de dinheiro na venda do seminovo.

A Covid-19 provocou o isolamento social, minguando a demanda pelos serviços de apps. E levou motoristas a devolver carros alugados. Em abril, mês mais crítico até então, as locadoras não sabiam o que fazer com tantos carros. Faltou pátio, o que as obrigou a alugar vagas em supermercados, shoppings e até aeroportos (os dois últimos ficaram com estacionamentos vazios, também pela baixa procura).

Foi o caso da empresa de locação Unidas, que assistiu a uma debandada de clientes. Todas as linhas de atuação foram prejudicadas, da assinatura anual de carros até o aluguel esporádico. O setor de “lazer e negócios” foi um dos mais afetados.

“Foi pânico geral na última semana de março e no começo de abril”, contou Carlos Sarquis, head da área de RAC (Rent a Car) da Unidas. “O governo federal numa linha e o estadual em outra. Naquela situação, nós sofremos em todos os nossos canais. Tivemos uma queda abrupta em abril.” De acordo com a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), o faturamento do setor chegou a cair 80% no quarto mês do ano.

Além de criar novos protocolos de limpeza, a solução foi baixar os preços, até para convencer os motoristas de aplicativos a não devolverem os carros. A Movida, outra gigante do segmento, decidiu vender parte da frota de seminovos com superdescontos, um jeito fácil de fazer caixa e evitar perda de dinheiro com a manutenção de carros parados.

Porém, a médio prazo, essa crise não deve causar danos a essas empresas. Além de já ter recuperado cerca de 80% do movimento pré-pandemia, o setor de locação de veículos deve crescer (ainda mais) nos próximos anos.

O potencial de crescimento é impressionante. Para ter uma ideia, a Unidas, em comparação a 2019, aumentou em 42% o número de diárias (carros locados) no primeiro trimestre deste ano. Na Europa e nos EUA, esse setor é muito mais forte do que o nosso.

Apesar do sofrimento em abril e maio, a retomada paulatina trouxe clientes novos. Para fugir do risco da aglomeração em transportes públicos, muita gente planeja alugar carro. Jamyl Jarrus, diretor executivo comercial e de marketing da Movida, compartilhou comigo uma pesquisa da empresa que ouviu 955 pessoas em 27 estados em maio.

A Movida identificou que 47% dos entrevistados consideram alugar carro para evitar opções de transporte em que ficam expostos. Dos interessados na locação, mais da metade (54%) são pessoas que nunca alugaram. E no turismo a tendência é de que viagens nacionais ganhem força ante as internacionais. A desvalorização do real e a alta do dólar são as principais razões.

Quer outro motivo? As pessoas terão receio de usar avião nas férias e farão a opção por uma viagem mais segura, de carro, apenas com a família. “Nós vemos o carro fortalecido depois da pandemia: pessoas que tinham vendido o carro há dois ou três anos e agora querem segurança”, afirma Jamyl.

A pandemia vai estimular e até acelerar mudanças no comportamento do brasileiro quando o assunto é automóvel. O setor prevê que as pessoas se habituem a alugar carros e que esse costume continue mesmo após o surgimento de vacina contra o coronavírus.

“A previsão é de crescimento, não tenho dúvidas. O volume de carros alugados ainda é pequeno. Temos cerca de 500 mil carros alugados no Brasil nas locadoras. Dado o tamanho do país, é pouca coisa, nosso potencial é maior”, destaca Sarquis, da Unidas.

Fonte: Revista Auto Esporte

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