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Netflix dos carros: Kinto é aposta da Toyota nos veículos por assinatura

Presente em 33 países, empresa de aluguel de veículos recebeu aporte de R$ 1,1 bilhão para expandir; carros híbridos são parte dos diferenciais da companhia

Usar um veículo “por assinatura”, pagando como se fosse um serviço de streaming, é uma tendência para os próximos anos. Com consumidores priorizando cada vez mais o serviço em vez da posse dos veículos, pelo menos sete montadoras criaram serviços de aluguel por longos períodos: Audi, Caoa, Fiat, Jeep, Nissan, Renault e Volkswagen. A mais recente a entrar nesse mercado é a Toyota, que lançou a empresa Kinto no segundo semestre de 2020. 

O modelo da empresa é um pouco diferente das demais: ainda não é possível alugar veículos por períodos superiores a três meses — ainda que a estratégia seja trazer esse serviço para o Brasil esteja nos planos da empresa — além do foco em veículos elétricos. 

“A Toyota é referência global em eletrificação, já vendeu mais de 15 milhões de carros híbridos. A montadora tem, como meta, fabricar uma versão movida a eletricidade de cada modelo comercializado até 2025. Essa estratégia faz total sentido para a Kinto, na medida em que mais empresas e consumidores buscam por sustentabilidade e estamos equipados para atendê-las”, diz Roger Armellini, diretor de mobilidade da Toyota.

A solução de gestão de frotas é chamada de “Kinto One” e, hoje, já tem 268 contratos fechados no país, com nomes como Bradesco e Vale entre seus clientes — o executivo também afirma que a empresa está participando de concorrências no setor farmacêutico e no setor elétrico, ainda sem definição. 

Já para os consumidores, a solução disponível se chama “Kinto Share”. Segundo Armellini, um dos pontos fortes desse serviço é ser a única empresa no Brasil a disponibilizar Corolla Cross para aluguel via aplicativo. O serviço está disponível em todo o país, com 40 estações em concessionárias Toyota nas capitais do país. O plano é chegar a 70 estações até o fim de 2021.

Os usuários desse serviço atendem a perfis variados, segundo a empresa. Há desde antigos clientes Toyota que alugam o carro quando necessário, pessoas que pensam em comprar um veículo da montadora e querem testá-lo por um período superior ao test-drive, consumidores que usam o carro para fazer viagens. Por meio do aplicativo da marca, é possível agendar a entrega de carros próximos a aeroportos — e, assim, combinar a chegada de um voo com o carro à disposição.

Os carros disponíveis nesse serviço podem ser alugados por um período que varia de uma hora a três meses. Os preços oscilam de acordo com o modelo escolhido: para o Etios Hatch Plus, o serviço sai por R$ 19,00 a hora — e não basta multiplicar esse valor para saber quanto seria por mês. Para 14 dias com o mesmo carro, o preço seria 1,4 mil reais; para 30 dias, R$ 2,4 mil. Os modelos mais caros, disponíveis para locação, são o Lexus ES 300 e o NX 300 H Fsport, que variam de R$ 107 a R$ 112 por hora.

Em longo prazo, a empresa também não descarta lidar com carros autônomos. Por enquanto, são só planos distantes — na visão do executivo à frente da Kinto, falta regulamentação e infraestrutura para que o país possa avançar nessas discussões. “Em curto e médio prazo, acredito que no Japão e na Europa tecnologias como essa sejam viáveis, mas, no Brasil, só vejo como usá-los dentro de operações logísticas, ambientes controlados em geral”, diz Roger. 

Competição e futuro do setor

Com a Kinto, a Toyota entra em mais um mercado de alta competição. Além das locadoras com resultados recordes no país — em plena pandemia, a Unidas registrou lucro recorde no 1º trimestre, de 231,4 milhões de reais, e a Localiza apresentou lucro acima do esperado por analistas — a companhia também enfrenta a competição das próprias unidades de mobilidade lançadas por outras montadoras, como a Flua! da Fiat Chrysler, que tem a possibilidade de aluguel de veículos zero quilômetro em um período a partir de 12 meses.

“A gente não entende que as vendas no varejo vão cair, pelo contrário. No Brasil, o índice de veículos per capita é muito baixo, quando comparado com mercados maduros. Por isso, projetamos o crescimento tanto do mercado de serviços de mobilidade quanto de venda de veículos e queremos crescer em ambos ao mesmo tempo”, diz Roger.

Para ganhar seu “filão” dentro desse meio, a companhia aposta, também, no fato de ser uma marca de mobilidade global, que está presente em 33 países. A estratégia é investir nas viagens pós-pandemia, em que consumidores poderão contar com carros da empresa para onde forem viajar. 

Além disso, também há mais chances de compartilhar experiências com outros países. Na Austrália, a Toyota está presente há mais de 20 anos com serviços de frota e tem cerca de 140 mil carros disponíveis por lá. 

Empresa é uma das únicas a ofercer o Corolla Cross no país (Toyota/Divulgação)

A estratégia é acertada, como mostram estudos recentes. Um material elaborado pela Accenture afirma que, no futuro, serviços de mobilidade devem cooperar para o uso eficiente de veículos e devem encontrar um modelo para maximizar a rentabilidade do setor automotivo.

“A discussão de posse versus uso do carro deve continuar em voga por muito tempo. Montadoras já estavam de olho nessa tendência há pelo menos dois anos, mas, para muitas, o principal desafio era solucionar como criar essas novas empresas: criar um CNPJ separado? Fazer parcerias com locadoras? etc. Acho que a pandemia acelerou mais ainda essa tendência e as empresas começaram a ver de fato que se trata de um segmento rentável e que merece atenção”, diz Andrea Oneda, especialista no setor automotivo da Accenture.

Para a executiva, esse investimento é necessário e deve provocar um movimento de consolidação entre montadoras e locadoras de veículos. O desafio, para as montadoras, é manter um giro tão alto quanto o das locadoras em veículos usados — ao mesmo tempo em que fazem uma transformação na cultura de consumo de carros como acontece até hoje. Nesse ponto, as parcerias devem ser fundamentais nos próximos anos, nas duas pontas.

“Aproximadamente, as locadoras compram pelo menos 40% do que é fabricado por aqui. 2020 foi até um ano em que eles falaram muito não. se você for perguntar qual é a maior dificuldade, é comprar carro. eu acho que esse equilíbrio é complexo. as montadoras não conseguem operar no curto prazo com a eficiência de uma locadora”, diz.

Ricardo Bacellar, da KPMG no Brasil, vai ao encontro do argumento defendido pela especialista. Como noticiado anteriormente pelo Estadão, o executivo acredita que a oferta de carros por assinatura deve passar por uma fase de aprendizagem, até se tornar sedutora o suficiente para atrair clientes, especialmente para aqueles que compram carros mais baratos.

Fato é que as companhias do setor veem na mobilidade uma alternativa cada vez mais eficaz para ditar o consumo do futuro. Em um mundo na qual a posse conta cada vez menos do que a mobilidade — e a sustentabilidade — a Kinto quer ocupar um papel de destaque no Brasil e no mundo.

Por Karina Souza

Fonte: exame.

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