Sistemas de freios e volante sem ligações mecânicas prometem otimizar o espaço interno sem prejudicar a segurança ou a dirigibilidade
A indústria automotiva evoluiu em diversos aspectos nos últimos 100 anos, mas a dinâmica de condução dos veículos é praticamente a mesma: um volante para controlar a direção e pedais para acelerar e frear. Mas se depender da Bosch, nos próximos anos, teremos uma grande mudança nesses elementos. Ao menos no funcionamento deles.
Durante o Tech Day 2024, no centro de desenvolvimento e pesquisa da empresa, em Renningen (Alemanha), foram apresentadas tecnologias que prometem simplificar o funcionamento da direção, aceleração e frenagem, reduzindo o número de peças e, consequentemente, o peso dos carros. A ideia é trocar sistemas mecânicos por eletrônicos, que se comunicam com fios elétricos usando dados lidos por sensores.
Adeus, coluna de direção
Usando a direção como exemplo, podem ser eliminados de uma só vez, coluna de direção, pinhão, cremalheira. Todos esses elementos seriam substituídos por sensores e atuadores no volante e na caixa de direção. Assim que a solicitação de direção do motorista é enviada, o atuador de direção direciona as rodas.
Sem a transmissão mecânica do sistema convencional, cabe a um atuador no volante criar a sensação de direção, dando ao motorista um retorno físico sobre o estado de condução e a superfície da via.
Segundo a Bosch, sinais específicos, como os de sulcos ou buracos, podem ser parcial ou completamente filtrados, amortecidos ou mesmo amplificados. Em tese, isso pode reduzir o desconforto de trafegar em vias esburacados ou, em casos de uma condução na pista, aprimorar a percepção do piloto.
Por fim, ainda é possível selecionar o nível de filtragem de obstáculos e buracos. Se preferir, o motorista pode escolher não receber nenhuma vibração no volante ao passar por uma lombada, por exemplo. Segundo os engenheiros da Bosch, a tecnologia estará disponível para as fabricantes de veículos no final de 2027.
Freios do futuro
Além da direção, a Bosch também apresentou e demonstrou o funcionamento do pedal de freio sem conexão mecânica, ou seja, by wire. Em vez de um sistema hidráulico, sensores captam o movimento do motorista no pedal e transmitem para atuadores que acionam os freios de forma imediata. Assim como na tecnologia citada acima, há uma redundância — também elétrica — em caso de falha. Há duas centrais eletrônicas alimentadas por diferentes fontes de energia. Se uma deixar de funcionar, a outra entra em ação.
No caso dos freios by wire, a Bosch desenvolveu dois diferentes tipos de pedal. O mais conservador se parece muito com um convencional, como conhecemos atualmente. Porém, tem o curso total reduzido de cerca de 6 cm para 4 cm. Com isso, é preciso menos força para que a pressão total seja exercida.
Uma proposta mais ousada tem um pedal praticamente fixo, com movimento de apenas 0,4 cm – como referência, um grão de arroz tem 0,6 cm, em média. Nesse caso, os sensores conseguem captar com maior precisão a força de frenagem e replicar nas pastilhas a dosagem necessária para aquele momento.
De acordo com a Bosch, a economia de peso ao retirar os componentes físicos nesse caso chega a 1,5 kg e a tecnologia estará disponível para as fabricantes interessadas em 2026.
Nas duas tecnologias, o maior ganho maior é o de espaço na cabine, já que são eliminadas peças de tamanho considerável, como a coluna de direção. Nesse caso, a empresa afirma que essa área pode ser útil para criação de um segundo porta-luvas, ou mesmo no aumento do espaço para as penas do motorista.