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Entrevista: Aluguel de carros por assinatura é a nova tendência, afirma Movida

O segmento de aluguel de carros saiu fortalecido da crise da Covid-19. As gigantes do setor, como a Movida  (MOVI3), fizeram bonito e arrancaram elogios de analistas. Os números provam isso. 

A empresa, considerada o terceiro maior no mercado, viu o seu lucro líquido subir 2,5% em 2020 ante 2019. A comparação no quarto trimestre é ainda mais expressiva: somou R$ 138,7 milhões, um salto de 65% sobre os R$ 84,1 milhões de 2019. 

O coronavírus, que poderia ter sido uma tragédia para o setor, com a doença obrigando o brasileiro a ficar em casa, na verdade tornou o segmento uma alternativa às medidas de restrições.

Somado a isso, há o fechamento de fronteiras entre os países, que incentivou o turismo regional, e consequentemente, o aluguel de carros por aqui. 

“Como toda a crise, as empresas têm que se reinventar. E conosco não foi diferente. A gente aperfeiçoou processos e durante a pandemia novos usos para o carro apareceram”, afirma o Diretor Financeiro e de RI (Relações com Investidores) da Movida Edmar Lopes, em entrevista ao Money Times.

O executivo também destaca o forte crescimento do segmento de aluguel de veículos  – RAC, rent a car, em inglês -, os carros por assinatura, que impulsionaram os números da gestão e terceirização de frotas (GTF). 

Além disso, considerado por analistas a surpresa positiva do trimestre, as vendas de seminovos também chamaram a atenção.

Em 2021, a empresa aposta na normalização da economia para continuar crescendo.

“Eu não tenho nenhuma dúvida que com os fundamentos voltando, a gente vai retornar nossa trajetória de crescimento com aumento de rentabilidade”, aponta. 

Há no caminho, no entanto, a fusão entre a Localiza (RENT3) e a Unidas (LCAM3), que criará uma gigante com 70% do mercado.

Analistas veem a união como uma possível oportunidade, pois as companhias precisarão vender ativos se quiserem ver o Cade (Conselho de Administração e Defesa Econômica) dar sinal verde à operação.

Lopes, porém, acredita que ainda é cedo para tirar conclusões. “É um processo que ainda está muito no início. Vamos ver qual é a deliberação”, diz.

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“No nosso balanço e olhando o que nós temos de plano-base, a gente acredita que pode crescer 25 a 30 mil carro em 2021”, destaca (Imagem: Divulgação/Movida)

Veja a seguir a entrevista:

MT: A Movida sai da crise do coronavírus melhor que entrou?

R: Sim. Como toda a crise, as empresas têm que se reinventar. E conosco não foi diferente. A gente aperfeiçoou processos e durante a pandemia novos usos para o carro apareceram.  Tanto do ponto de vista interno a gente sai fortalecido como do ponto de vista de mercado. A gente vê que tem mais possibilidades até do que a gente pensava antes. 

MT: A segunda onda da Covid preocupa?

R: Sim, preocupa porque isso acaba afetando a economia. Entretanto, como eu falei, a gente aprendeu bastante a navegar no ambiente complexo, que foi a primeira onda, o primeiro lockdown, lá em março, abril, maio e junho, onde pouco se conhecia sobre como fazer as coisas nesse ambiente. Então acho que a empresa está mais madura. Vamos ver quais são as decisões sobre fechamento, ou não, daqui para frente. 

MT: Quais os principais destaques do balanço do quarto trimestre?

R: No RAC (locação de carros, em português) foi um trimestre de taxas de utilizações muito altas com preços bons, preços fortes, fruto desse turismo doméstico e terrestre que foi a alta temporada aqui.

No GTF (Gestão e Terceirização de Frotas) o destaque é o crescimento, e não só do negócio B2B (negócios entre empresas), que é o tradicional de GTF, mas também no B2C (negócios com o consumidor), que é o carro por assinatura, o contrato de longo prazo com a pessoa física. Isso também ajudou a impulsionar o crescimento de GTF.

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“Fica cada vez mais difícil você ter um entrante ou um pequeno player. Mas olhando para o mercado, sim, ele tem bons fundamentos”, destaca (Imagem: Facebook/Movida)

E no caso de seminovos, sem dúvida nenhuma, o preço. A questão da oferta reduzida por problemas nas montadoras fizeram com que o preço do carro novo e o preço do carro usado subissem. 

MT: A empresa espera fechar 2021 com uma frota de quantos carros?

R: A empresa terminou 2020 com cerca de 118 mil carros. No nosso balanço e olhando o que nós temos de plano-base, a gente acredita que pode crescer 25 a 30 mil carros, dependendo das condições do ano. Então isso tudo é um cenário preliminar. Mas cabe no balanço, como a gente diz. 

MT: Vocês acham que o setor de aluguel de carros e a terceirização de frotas no Brasil já é algo consolidado ou há espaço para crescer?

R: Eu coloco esse negócio sob duas óticas. A primeira delas sobre a ótica da consolidação. As grandes empresas, sim, já tem uma grande fatia de mercado, variando um pouquinho de RAC para GPS e seminovos. Mas o fato é que no RAC a consolidação é relevante.

Adicionalmente, no caso do RAC, você tem uma transação anunciada, que é da Localiza com a Unidas, que faria com que o maior player tivesse 70% do mercado, que sem dúvida é uma consolidação importante. Isso é menos no GTF, mas os dois negócios se comunicam pela escala.

Nós temos duas coisas: a primeira delas é o mercado, que cresce de 15% a 16% ao ano nos últimos anos.

Só que ao mesmo tempo que o mercado cresceu, houve uma consolidação. A escala é um elemento importante nesse negócio. Fica cada vez mais difícil você ter um entrante ou um pequeno player. Mas olhando para o mercado, sim, ele tem bons fundamentos.

O mercado tem boas oportunidades de crescimento por meio de novos usos. Mas para alguns dos nossos negócios a consolidação já chegou de maneira forte.

No caso de gestão de frotas, menos. É um mercado um pouco mais fragmentado, mas que deve seguir a mesma tendência do RAC em função da escala.

MT: Analistas dão como certo que para a fusão entre Unidas e Localiza ser aprovada pelo Cade (Conselho de Administração e Defesa Econômica) será necessário se desfazer de alguns ativos. A Movida estuda alguma aquisição nesse sentido?

R: Tem que esperar o Cade se manifestar. A essa altura já houve uma série de ofícios encaminhados para as empresas. Eu acho que ainda é cedo para dizer se vai para um lado ou vai para o outro.

Entretanto, se forem aplicados remédios nós deveríamos olhar e avaliar qualquer um. Não quer dizer que eu vá comprar. Mas é obrigação fiduciária que a gente tem de olhar. De novo: é um processo que ainda está muito no início. Vamos ver qual é a deliberação.

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Cade pode colocar um freio na fusão entre Localiza e Unidas e obrigar as companhias a venderem ativos (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

MT: Como vocês observam a fusão entre a Localiza e a Unidas? Esse movimento preocupa?

R: Tem dois aspectos importantes. O primeiro deles é a questão da consolidação do mercado. Em mercados consolidados tipicamente você tem mais poder de preço na mão das companhias. Isso geraria, eventualmente, um potencial adicional para a gente.

Por outro lado, com certeza a escala que a companhia combinada atinge coloca outros desafios para a gente porque, colocando nos dias de hoje, nós estamos falando de uma companhia que seria 4 vezes maior em termos de frota. É um desafio grande você competir em um negócio onde a escala conta muito.

Então tem um lado que torna nossa vida mais difícil. Por outro lado, tem essa questão que, historicamente, em mercados consolidados você tem mais poder de preço. 

MT: Como a empresa espera sustentar esse crescimento visto em 2020 e gerar valor para o acionista?

R: A gente cresceu em 2020, o que foi muito bom, considerado tudo. Nós acreditamos que podemos acelerar o crescimento daqui para frente. Mas o nosso compromisso tem sido crescer com rentabilidade.

E era isso que a gente estava fazendo de maneira mais relevante antes da pandemia. Eu não tenho nenhuma dúvida que com os fundamentos voltando a melhorar, a gente vai retornar nossa trajetória de crescimento com aumento de rentabilidade. 

MT: Vocês sondam alguma aquisição daqui para frente?

R: Não é parte central da nossa estratégia o crescimento inorgânico. Nós acabamos de anunciar uma empresa pequena, com menos de 2 mil carros, a Vox, no mês passado. Pode existir outra aquisição. Mas não é obrigatório. Tipicamente o crescimento orgânico tem sido mais relevante para a gente.

Por Renan Dantas

Fonte: Money Times

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