Especialista explica como funciona o “chapolin”, dispositivo que facilita o furto de veículos no Brasil
Imagine o seguinte cenário. Um motorista para o carro no estacionamento de um posto na rodovia para esticar as pernas, usar o banheiro e tomar um café. Ao retornar para o veículo, se assusta ao notar que pertences sumiram da cabine e do porta-malas. Para sua surpresa, não há sinais de arrombamento nas portas ou janelas.
Este motorista pode ter sido vítima de um golpe difícil de antecipar e, muitas das vezes, não rastreável nas ruas brasileiras. Para garantir a agilidade de um crime furtivo e perfeito, os bandidos utilizam um dispositivo apelidado de “chapolin”.
Rodrigo Boutti, diretor de operações da empresa de rastreadores Sat Company e especialista em segurança pública, diz que se trata de um aparelho semelhante a um controle de portão residencial. O dispositivo é capaz de embaralhar os sinais eletromagnéticos do alarme para impedir o fechamento do veículo.
“Quando os alarmes se popularizaram, criminosos descobriram que era possível gerar uma interferência na frequência emitida por eles”, afirma o especialista. “Ao apertar o botão para travar as portas, o alarme não vai se comunicar com o carro, pois há uma barreira eletromagnética agindo naquela frequência. Assim, as portas não fecham”.
Segundo Boutti, muitos motoristas nem percebem que o alarme não foi acionado. É neste momento que os criminosos entram em ação.
Como acontecem os roubos?
O chapolin pode ser utilizado tanto para furtar itens da cabine quanto o próprio carro em si. A forma que os bandidos agem tem variações de acordo com a finalidade do crime, como elabora Boutti:
“Ao furtar um carro, o criminoso vai usar o chapolin para impedir o travamento das portas. Com a vítima afastada, a quadrilha fará a substituição do módulo que faz o reconhecimento da chave original. Assim, a ignição pode ser acionada”, pontua o diretor de operações.
Em poucos minutos, o veículo será levado a algum desmanche clandestino. Neste tipo de crime, o chapolin é mais utilizado no meio urbano para facilitar distrações e garantir uma fuga mais ágil até o destino final, onde o carro será totalmente desmontado e as peças encaminhadas ao mercado paralelo.
Em ações que visam o furto de itens de dentro do carro, os criminosos que usam o chapolin preferem os autopostos rodoviários. “É normal que as pessoas viajem levando notebooks, videogames e outros aparelhos eletrônicos de valor. Neste caso, os bandidos aproveitam paradas em postos à beira das estradas para os furtos”, afirma Boutti.
Trata-se de um crime quase perfeito, pois a ação não deixa qualquer sinal de arrombamento no carro. Em alguns casos, é possível que o motorista nem perceba que foi roubado. Entretanto, o especialista pontua que os postos rodoviários não são os únicos lugares sujeitos a ações desses criminosos.
“É normal que as pessoas levem notebooks, celulares e bolsas caras para o escritório. Sabendo disso, os bandidos também atuam em supermercados e shoppings, num horário em que todos estão voltando do trabalho”, alerta.
Com a evolução da tecnologia, carros mais novos são menos vulneráveis ao chapolin, pois a chave presencial envia sinais codificados específicos. Inclusive, há mais antenas espalhadas pela cabine para mitigar possíveis fraudes. Isso acabou gerando uma “atualização” do golpe do chapolin, com a utilização de retransmissores que sequestram a frequência da chave presencial.
Como se proteger?
Felizmente, se proteger do golpe do chapolin é uma tarefa simples. Para evitar o crime, o diretor de operações da Sat Company elaborou um passo a passo com procedimentos básicos. Confira abaixo:
- Ao estacionar, confira se o alarme emitiu som e/ou se as luzes piscaram;
- Com o veículo fechado, espere alguns segundos e puxe a maçaneta para certificar-se de que a porta realmente travou;
- Se a porta não travou, tente acionar o alarme novamente. Ao suspeitar do golpe, procure um segurança ou se retire do lugar;
- Não deixe itens de valor expostos na cabine do carro.